Infraestrutura inadequada e falta de ações de conscientização dos motoristas são apontadas pelos especialistas como as principais causas de atropelamento de animais nas rodovias brasileiras. Como é recente a preocupação com os animais silvestres na construção de estradas, a maior parte da malha rodoviária do país não está preparada para evitar esse tipo de acidente.
Todavia, além do desafio dos animais silvestres impactados pelo avanço da urbanização, existe a questão do abandono de animais domésticos próximo das estradas, que colocam em risco a vida do animal abandonado em si e dos usuários das vias, que podem se envolver em acidentes ocasionados pela tentativa de desviar dos animais na pista ou mesmo pelo atropelamento destes. Segundo um estudo do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), cerca de 475 milhões de animais morrem por ano nas rodovias brasileiras, uma média assustadora de 17 óbitos por segundo e 1,3 milhão por dia.
No entanto, esse número pode ser ainda maior, uma vez que o estudo se refere principalmente a animais silvestres, deixando de lado animais domésticos, como cachorros. Em Santa Catarina, por exemplo, a Arteris, concessionária responsável por vários trechos na BR 101, resgatou 122 animais domésticos em 2023. Apesar de manter protocolos para o resgate desses animais, a responsabilidade sobre a posse responsável e a manutenção de cercas também é destacada como parte da solução para evitar que os animais adentrem nas rodovias.
A falta de registros específicos sobre o atropelamento de animais de pequeno porte, como cachorros, por parte da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Rodoviária Estadual, evidencia uma lacuna na coleta de dados sobre esse problema. A PRF ressalta que apenas animais de grande porte, como bovinos ou equinos, são considerados relevantes em relação a acidentes nas rodovias.
Quando animais ficam feridos ou mortos nas estradas, o encaminhamento e os procedimentos variam de acordo com a situação. No caso de animais feridos, a equipe entra em contato com órgãos responsáveis pelo acolhimento, como o Centro de Zoonoses ou a Polícia Ambiental. Para animais mortos, são feitos procedimentos de coleta e enterro, dependendo da cidade.
Para mitigar essa tragédia, algumas soluções têm sido propostas, como a construção de passagens de fauna, cercamento de vias e a implementação de sistemas de alerta aos motoristas. Projetos de lei em âmbito federal também têm buscado punir com mais rigor quem abandona animais nas vias públicas. Além disso, a promoção de mutirões de castração é apontada como uma medida essencial para reduzir o número de animais abandonados e, consequentemente, sua presença nas estradas.
Enquanto essas soluções não são implementadas em larga escala, pessoas como o protetor de animais Paulo Santangelo desempenham um papel crucial para a sociedade, resgatando e cuidando dos animais atropelados que, muitas vezes, são esquecidos nas estatísticas, mas fazem parte da dura realidade das estradas brasileiras.
NOTA DO EDITOR:
A equipe editorial do Jornal O Monatran, representada pelo presidente da entidade mantenedora, Roberto Alvarez Bentes de Sá, vem a público expressar a mais sincera gratidão pelo contato do deputado estadual Mário Motta, com o objetivo de discutir o sério problema do abandono de animais, tanto nas rodovias quanto no perímetro urbano das cidades. Sua iniciativa em abordar esse assunto crucial é louvável e demonstra seu compromisso com o bem-estar animal e a segurança pública.
A reportagem intitulada "À margem das estatísticas: o problema do abandono de animais e o risco nas estradas" é um reflexo da urgência desse tema e do impacto que tem na nossa sociedade. Ao trazê-lo à luz, estamos promovendo uma conscientização essencial e buscando soluções eficazes para proteger tanto os animais quanto os cidadãos.