Essa pergunta tem sido cada vez mais frequente, porque a IA está transformando a forma como vivemos e trabalhamos. E na segurança viária não é diferente. Ela oferece novas ferramentas para salvar vidas e prevenir sinistros viários. Mais do que uma tecnologia avançada, a IA é uma aliada estratégica para enfrentar um dos maiores desafios globais: a redução de mortes e lesões no trânsito.
Ao permitir análises preditivas, automação de processos e uma integração mais eficiente de dados, a IA possibilita intervenções precisas e eficazes, alinhadas aos objetivos do Plano Nacional para Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, PNATRANS, que busca reduzir pela metade as fatalidades no trânsito brasileiro. Uma abordagem inovadora não apenas complementa as ações tradicionais, mas abre caminho para soluções que antes pareciam distantes da nossa realidade.
Um exemplo prático é o uso de sistemas inteligentes para monitorar o trânsito em tempo real, identificando comportamentos de risco e situações perigosas antes que se transformem em sinistros. Em cidades como São Paulo e Curitiba, câmeras com algoritmos avançados de IA detectam infrações, como o uso de celular ao volante ou a falta do uso de cinto de segurança. Esses sistemas também são capazes de enviar alertas imediatos para as autoridades, otimizando o tempo de resposta e reforçando uma fiscalização mais ampla e eficiente. A combinação de automação e análise de dados oferece resultados impressionantes, pois não apenas identifica infrações, mas também desencoraja práticas perigosas, criando um trânsito mais seguro.
Essa capacidade de atuar preventivamente se torna ainda mais poderosa quando integrada às campanhas educativas. De acordo com o Guia publicado pelo Banco Mundial: "O que funciona e o que não funciona em intervenções de segurança viária", campanhas isoladas têm impacto limitado. A associação dessas campanhas com ações de fiscalização muda isso e garante resultados duradouros. A IA entra como um elemento-chave nessa integração, personalizando as mensagens e direcionando as campanhas para públicos específicos, indicando como integrar a fiscalização no processo. Por exemplo, motoristas que frequentemente desrespeitam limites de velocidade podem receber mensagens educativas personalizadas enquanto sistemas inteligentes reforçam a fiscalização em áreas críticas. Essa abordagem baseada em evidências aumenta a conscientização, promovendo mudanças comportamentais em condutores infratores.
Além disso, a IA tem mostrado um enorme potencial no planejamento e manutenção da infraestrutura viária.
Em outros países, como a Austrália, sistemas preditivos analisam dados para identificar pontos críticos em rodovias antes que se tornem perigosos. Essas tecnologias orientam intervenções preventivas, como instalação de barreiras de segurança ou melhorias no pavimento. No Brasil, concessionárias estão utilizando sensores inteligentes para monitorar veículos pesados, detectando sobrecarga ou falhas mecânicas que podem causar situações graves. Essas soluções tecnológicas permitem uma gestão mais eficiente das rodovias, com foco na segurança dos usuários e na redução de sinistros. O Departamento Nacional de Infraestrutra de Transportes, DNIT, também tem adotado iniciativas nessa direção.
Essa transformação tecnológica não ocorre de forma isolada. O Brasil está dando passos importantes para capacitar profissionais capazes de liderar essas mudanças. Um exemplo desse movimento é o curso de pós-graduação lato sensu VIAS SEGURAS, oferecido pelo Instituto Nacional de Projetos para Trânsito e Segurança, INPROTRAN, com apoio da ANTT e da concessionária Ecorodovias. Essa iniciativa pioneira está formando a primeira turma de especialistas em segurança viária, com um programa que inclui o uso prático da Inteligência Artificial em diferentes etapas da gestão do trânsito. Os alunos aprendem a aplicar IA na análise de dados, na fiscalização inteligente e na elaboração de campanhas educativas mais eficazes, alinhadas às melhores práticas globais. Essa formação multidisciplinar é essencial para atender às demandas do PNATRANS, contribuindo para uma mudança efetiva no cenário da segurança viária no Brasil.
Os avanços tecnológicos também estão transformando a forma como respondemos a sinistros. Sistemas baseados em IA permitem um monitoramento em tempo real, priorizando atendimentos e otimizando rotas para as equipes de resgate. Além disso, esses sistemas auxiliam na análise das causas dos sinistros,
oferecendo insights detalhados que ajudam na prevenção de ocorrências semelhantes no futuro. Essa integração entre tecnologia e gestão é um exemplo claro de como a IA pode revolucionar a segurança viária, indo muito além de soluções pontuais para criar um sistema mais seguro e eficiente.
O uso da Inteligência Artificial ainda enfrenta desafios, especialmente no que diz respeito à sua aceitação e adoção em larga escala. Muitos ainda veem a tecnologia como algo distante ou complexo, mas há que desmistificar essa percepção. Ao capacitar profissionais e demonstrar como a IA pode ser aplicada de maneira prática e acessível, o Brasil mostra que está preparado para adotar soluções inovadoras que priorizem a vida. Essa mudança de mentalidade é essencial para integrar a IA às políticas públicas e garantir que ela seja utilizada de forma estratégica e eficaz.
Mais do que uma ferramenta técnica, a IA representa uma oportunidade de transformar o trânsito em um ambiente mais seguro e humano. Cada aplicação dessa tecnologia traz benefícios mensuráveis, seja na prevenção de sinistros, na fiscalização ou no planejamento de campanhas e infraestrutura. O futuro da segurança viária depende de ações concretas e de uma abordagem integrada, onde a tecnologia esteja a serviço da vida. O Brasil faz parte de um movimento mundial que une inovação, conhecimento e compromisso com a segurança no trânsito. É hora de abraçar essa revolução tecnológica e construir um futuro no qual o trânsito seja mais seguro para todos.
Doutor em Educação. Aviador. Especialista em Segurança no Trânsito. Jornalista.