Os Desafios dos Carros Autônomos em Regimes Autoritários
Caro Leitor, os carros autônomos possuem uma série de benefícios, incluindo melhoria na segurança viária, redução do congestionamento do tráfego e aumento da mobilidade para indivíduos que não podem dirigir. No entanto, em governos ditatoriais ou autoritários, a introdução e operação de carros autônomos pode apresentar riscos e desafios.
O que caracteriza um regime autoritário, em pleno século XXI ? Esse é o X da questão. Além dos formatos clássicos de ditaduras que permanecem como uma herança do passado, hoje se configuram outros modelos de autoritarismo e o pior deles é o que chega e permanece no poder pelo voto e onde não se tem a quem recorrer, pois se apoiam na última instancia recursiva. Esse modelo que se espalha por alguns países, amedronta a cidadania e coloca o avanço tecnológico à serviço do poder.
Governos ditatoriais, frequentemente, exercem vigilância e controle sobre seus cidadãos. Veículos automatizados, equipados com sensores e tecnologia de comunicação, podem ser, potencialmente, explorados para rastrear e monitorar os movimentos individuais, levando a perda da privacidade.
Em um regime fechado há o risco de que o governo possa manipular ou censurar as informações e dados transmitidos pelos veículos autônomos. Isso pode envolver a alteração de rotas de navegação, restrição de acesso a certas áreas ou manipulação de informações de tráfego em tempo real, para controlar ou influenciar os movimentos e atividades dos cidadãos.
Tais veículos dependem muito de um software complexo e sistemas de comunicação, o que os torna vulneráveis a ataques de hackers e ciberataques. Em um governo autoritário, hackers podem potencialmente assumir o controle de carros autônomos para realizar atividades maliciosas, como sequestros, sabotagens ou atos terroristas, e são limitados os meios para prevenir ou interromper tais situações.
Regimes dessa natureza podem usar a tecnologia de carros autônomos para discriminar certos indivíduos ou grupos com base em fatores políticos, étnicos ou sociais. Podem, inclusive, restringir o acesso de pessoas à determinadas áreas ou serviços considerados indesejáveis pelo governo, limitando ainda mais a liberdade de movimento dos cidadãos.
Embora o objetivo dos veículos autônomos seja reduzir erros humanos na direção, dar controle aos sistemas automatizados, podem limitar a ação humana, inclusive de escapar da pressão do poder público. Em um regime ditatorial, essa perda de controle individual poderá ser explorada pelo governo para cercear a liberdade e a capacidade de tomada de decisão dos cidadãos.
Regimes autoritários podem regular fortemente ou até monopolizar o desenvolvimento e implantação da tecnologia de carros autônomos. Sufocar a inovação tecnológica, limitar a concorrência e impedir que essa seja benéfica à sociedade.
Deve-se considerar, Caro Leitor do Jornal do Monatran, que veículos autônomos são programados para tomar decisões em frações de segundo em situações potencialmente ameaçadoras à vida. Tais regimes podem priorizar decisões políticas e deixar de lado considerações éticas, levando a resultados tendenciosos ou injustos.
Podem, inclusive, usar a nova tecnologia para reprimir a dissidência politica, acompanhar o movimento espacial de ativistas, oponentes políticos e controlar ou impedir manifestações publicas pacificas. Isso poderá resultar em uma maior erosão nos direitos dos cidadãos e fatalmente criará um clima de medo e insegurança social, em maior escala do que já hoje se assiste.
Importante considerar, também, que pode haver mecanismos que impeçam de responsabilizar o governo por acidentes, mau funcionamento ou comportamento antiético relacionado a carros autônomos e levar a uma cultura de impunidade.
Embora esses riscos existam, isso não significa, necessariamente, que os carros autônomos não possam ser implantados em regimes autoritários. Em vez disso, é preciso estabelecer estruturas regulatórias e diretrizes éticas para garantir que a tecnologia seja utilizada de maneira que priorize o bem-estar e os direitos dos cidadãos.
Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.