Olá, seja bem-vindo ao MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito
Tel.: 48999811015
você está em:Artigos|Tecnologia à Serviço do Poder
Tecnologia à Serviço do Poder
27 de Agosto, de 2023
Artigo
|
By JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS
Tecnologia à Serviço do Poder

Os Desafios dos Carros Autônomos em Regimes Autoritários

 

Caro Leitor, os carros autônomos possuem uma série de benefícios, incluindo melhoria na segurança viária, redução do congestionamento do tráfego e aumento da mobilidade para indivíduos que não podem dirigir. No entanto, em governos ditatoriais ou autoritários, a introdução e operação de carros autônomos pode apresentar riscos e desafios.

O que caracteriza um regime autoritário, em pleno século XXI ? Esse é o X da questão. Além dos formatos clássicos de ditaduras que permanecem como uma herança do passado, hoje se configuram outros modelos de autoritarismo e o pior deles é o que chega e permanece no poder pelo voto e onde não se tem a quem recorrer, pois se apoiam na última instancia recursiva. Esse modelo que se espalha por alguns países, amedronta a cidadania e coloca o avanço tecnológico à serviço do poder.

Governos ditatoriais, frequentemente,  exercem vigilância e controle sobre seus cidadãos. Veículos automatizados, equipados com sensores e tecnologia de comunicação, podem ser, potencialmente, explorados para rastrear e monitorar os movimentos individuais, levando a perda da privacidade.

Em um regime fechado há o risco de que o governo possa manipular ou censurar as informações e dados transmitidos pelos veículos autônomos. Isso pode envolver a alteração de rotas de navegação, restrição de acesso a certas áreas ou manipulação de informações de tráfego em tempo real, para controlar ou influenciar os movimentos e atividades dos cidadãos.

Tais veículos  dependem muito de um software complexo e sistemas de comunicação, o que os torna vulneráveis a ataques de hackers e ciberataques. Em um governo autoritário, hackers podem potencialmente assumir o controle de carros autônomos para realizar atividades maliciosas, como sequestros, sabotagens ou atos terroristas, e  são  limitados os meios para  prevenir ou interromper tais situações.

Regimes dessa natureza podem usar a tecnologia de carros autônomos para discriminar certos indivíduos ou grupos com base em fatores políticos, étnicos ou sociais. Podem, inclusive,  restringir o acesso de pessoas à determinadas áreas ou serviços considerados indesejáveis pelo governo, limitando ainda mais a liberdade de movimento dos cidadãos.

Embora o objetivo dos veículos autônomos seja reduzir erros humanos na direção, dar controle aos sistemas automatizados, podem limitar a ação humana, inclusive de escapar da pressão do poder público.  Em um regime ditatorial, essa perda de controle individual poderá  ser explorada pelo governo para cercear a liberdade e a capacidade de tomada de decisão dos cidadãos.

Regimes autoritários podem regular fortemente ou até monopolizar o desenvolvimento e implantação da tecnologia de carros autônomos. Sufocar a inovação tecnológica, limitar a concorrência e impedir que essa seja benéfica à sociedade.

Deve-se considerar, Caro Leitor do Jornal do Monatran,  que veículos autônomos são programados para tomar decisões em frações de segundo em situações potencialmente ameaçadoras à vida. Tais regimes podem priorizar  decisões políticas e deixar de lado  considerações éticas, levando a resultados tendenciosos ou injustos.

Podem, inclusive,  usar a nova tecnologia  para  reprimir a dissidência politica, acompanhar o movimento espacial de  ativistas, oponentes políticos e controlar ou impedir manifestações publicas pacificas. Isso poderá resultar  em uma maior erosão nos direitos dos cidadãos e fatalmente criará um clima de medo e insegurança social, em maior escala do que já hoje se assiste.

Importante considerar, também, que pode haver mecanismos que impeçam de responsabilizar o governo por acidentes, mau funcionamento ou comportamento antiético relacionado a carros autônomos  e levar a uma cultura de impunidade.

Embora esses riscos existam, isso não significa, necessariamente, que os carros autônomos não possam ser implantados em regimes autoritários. Em vez disso, é preciso estabelecer estruturas regulatórias e diretrizes éticas para garantir que a tecnologia seja utilizada de maneira que priorize o bem-estar e os direitos dos cidadãos.

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS

Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.