Sem dúvida alguma nenhuma morte no trânsito é aceitável. Porém, quando nos deparamos com a tragédia ceifando a vida de jovens ainda no florescer da vida, parece nos doer mais a notícia.
Neste mês de dezembro, um atropelamento na Avenida Beira-Mar Norte em Florianópolis resultou na morte da acadêmica de jornalismo Sarah Araújo, de apenas 19 anos de idade, integrante da equipe da Rádio Ponto UFSC e das turmas da disciplina de Áudio e Radiojornalismo.
Atingida na calçada e arremessada para o canteiro central pelo veículo, que não parou no semáforo para pedestres, Sarah foi atropelada no dia 2 de dezembro, morrendo no momento do impacto.
A jovem era caloura da UFSC e se dedicava com entusiasmo aos estudos, com o objetivo de se tornar uma grande jornalista. Que tragédia! Que dor!
Além de cometer a infração de avançar o sinal, atropelando a estudante, o motorista fugiu do local sem prestar socorro. Que revolta! Que repulsa!
Até quando meu Deus?
Lamentavelmente, a cena se repete com frequência, resultado do alto índice de mortes no trânsito. Somente em 2021 foram 64.441 vidas interrompidas, de acordo com dados do Anuário da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Em muitas rodovias, por vezes, vemos cruzes eternizando a memória de uma vítima fatal de acidente de trânsito. Porém, dentro das cidades, a cena do crime é rapidamente apagada, pedestres e motoristas logo voltam a circular sem ter ideia da tragédia ocorrida ali.
Fica a dor para a família enlutada lidar. Se perdem os sonhos no caminho. Se vai a companhia. Cessam os risos.
E, sem anestesia, a vida tem que continuar. Mas como prosseguir diante de tanta dor?
Ainda que não tenha todas as respostas, mas de uma coisa tenho absoluta certeza: não podemos perder a esperança, nem desaminar de nossa luta diária por um trânsito mais humano e seguro.
Sabemos que a educação para o trânsito é o caminho. Porém, além do compartilhamento da informação desde o nível fundamental do ensino, precisamos entender que a fiscalização ostensiva também educa e é preciso fazer doer no bolso, já que nem mesmo o risco da morte parece sensibilizar alguns.
Precisamos copiar o modelo de nações como a Suécia, que instituiu o programa Visão Zero, que estabelece que nenhuma morte no trânsito é admissível. E, de fato, não o é. A ideia, nascida em 1997, transformou o trânsito sueco em um dos mais seguros do planeta, influenciando o desenvolvimento de sistemas seguros de mobilidade em vários países.
Enquanto isso, no Brasil, nos “acostumamos” a contar nossos mortos como se não houvesse nada a fazer. Colocando a culpa no azar, na fatalidade... quando a responsabilidade cabe a cada um de nós, seja na posição de motorista, passageiro ou pedestre, mas especialmente, como cidadão, que cobra das autoridades competentes e luta por mais segurança nas estradas. Não nos contentemos com a tragédia no trânsito como se ela fosse obra do acaso, pois assim como nas demais áreas da vida, o mundo que queremos, depende de nós.
Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito