Os sinistros crescem a cada dia. São computados os acidentes fatais quando está lá um corpo inerte estendido no chão. Múltiplos óbitos acontecem fora do local do sinistro. No transporte para o hospital, na UTI, na enfermaria, na residência, às vezes meses após pelas complicações tardias vem ocorrer o óbito decorrente de um sinistro de trânsito não contabilizado.
O desemprego, a falta de qualificação profissional, a facilidade na aquisição da motocicleta, do trabalho como autônomo, tudo concorre para a introdução do indivíduo nesse mercado de trabalho que inicialmente é tido como trabalho temporário e que por falta de outras opções passa a ser definitivo. Cresce a categoria profissional. Aumenta a frota de veículos em geral a cada dia, os espaços para o trânsito são os mesmos. A legislação brasileira ainda colabora para a legalização da profissão. Dessa forma justifica-se o aumento continuado dos óbitos, dos sequelados e não temos dúvida que crescerá enquanto medidas governamentais não forem tomadas para reduzir tais sinistros com essa classe trabalhadora.
Na pandemia, o lockdown fez aumentar a frota de maneira exagerada para atuar como delivery, o que fez a pressa, exigência do empresário e do cliente aumentarem os sinistros, em consequência óbitos e incapacitados temporários ou definitivamente para o trabalho.
A falta de medidas preventivas governamentais, a melhor convivência entre motoristas e motociclistas, a conscientização do motociclista quanto aos riscos a que é submetido, treinamento continuado, uso de equipamentos de segurança, pista de rolamento própria são alguns dos motivos que elevam as estatísticas no trânsito. A imperícia, negligência e imprudência são fatores presentes nos motofretes e mototaxistas, mas não podemos deixar de lembrar que a pressa para desencadear o trabalho é fator concorrente imposto por terceiros.
Nossos hospitais recebem diariamente múltiplas vítimas do trânsito. Os motociclistas profissionais predominam e pior, são portadores das lesões mais graves que necessitam tratamento cirúrgico, internações em UTI e alguns evoluem para tratamento em enfermaria e fisioterapia. Geram um custo altíssimo ao estado. Em cada dez leitos das UTIs dos hospitais públicos seis são ocupados com vítimas de trânsito e desses, quatro são motociclistas.
A falta de todas as medidas preventivas citadas anteriormente não existe nos países de primeiro mundo. Lá existe educação, formação, conscientização, treinamento, fiscalização, campanhas permanentes, condições dignas de trabalho e principalmente respeito ao homem e a vida.
As entidades governamentais precisam entender que dois corpos de massas tão diferentes não podem circular no mesmo espaço. Há necessidade de se criar espaços próprios para circulação de veículos leves. Regulamentação da atividade com foco na prevenção. Melhor avaliação do perfil psicológico do candidato à motociclista, já que o predomínio é de jovens no final da adolescência e que muitos são compulsivos, destemidos, arrojados e que distúrbios comportamentais são capazes de levá-los ao sinistro. Fiscalização, multa, recolhimento da carteira, seriam maneiras de educá-los.
Acho que a bicicleta, o triciclo e a motocicleta são os veículos ideais para mobilidade humana.
Desde 1987 preconizamos a supressão do transporte existente na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo, em substituição por veículos sobre duas e três rodas.
Não tenho dúvida de que em curto espaço de tempo descartaremos o automóvel priorizando o veículo leve nos grandes centros.
Não sou contra o motociclista, mas sim contra os fatores de risco à saúde, a integridade física e a sua vida.
Diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego)