Tantas vezes falamos dos exageros no trabalho, da superposição de fatores concorrentes que levam ao adoecimento, falta de produtividade e em consequência a queda da remuneração.
Diante de tantos elementos que envolvem a atividade profissional no volante, como é o tempo de exposição ao trabalho, quantas horas, estresse, o comprometimento ambiental, fadiga, torpor e sonolência, precisamos planejar um trabalho que preserve a qualidade de vida. Os fatores físico, químico e biológico (vibração, ruido, variações climáticas, gases, vapores, poeiras, condição ergonômica e outros), que envolvem a atividade, as preocupações com a carga, a temperatura no ambiente interno do veículo, ausência da família tudo leva a distúrbios emocionais que comprometem o trabalho, família e patrimônio.
Estresse comprometendo e trazendo transtorno a relação interpessoal com a família, além de transtorno econômico e material com possibilidade de assalto, lesão corporal produzida no momento da ocorrência, sequestro e morte. Tudo compondo um quadro que é exaustivamente encarado pelo motorista profissional.
Não temos dúvida que esses múltiplos elementos são capazes de levar o indivíduo a contrair uma doença ocupacional a qual classificamos como Síndrome do Esgotamento Profissional que hoje é caracterizado como Síndrome de Burnout, que impacta na saúde mental, afetando diretamente o bem-estar e a produtividade do indivíduo. Caracterizada como Exaustão Extrema que vai além da atividade normal e ainda sofre pela falta de descanso e sono noturno para que possa reabilitar o organismo para nova etapa de trabalho. É durante esse sono que se mantém o equilíbrio psíquico, emocional, metabólico, restabelecendo o sistema imunológico, hormonal e regulando os neurotransmissores como a serotonina e dopamina, importantes no equilíbrio do humor e regulação das emoções.
Na realidade, não é uma doença, mas um conjunto de sinais e sintomas de âmbito psicológico, que está relacionada com a exaustão física e mental, por isso é conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional.
Vemos aí três pilares, exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional. No decorrer do tempo, esse quadro que para uns é desapercebido, em sua cronicidade leva a transtorno de ansiedade, depressão e estresse. Ocorre o abandono na relação de momentos de descanso, lazer e impactos nos relacionamentos. Trata-se de uma doença ocupacional caracterizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
É uma preocupação dos empregadores que precisam atuar permanentemente na proteção e prevenção.
As sequelas dessa síndrome são depressão, tentativa de suicídio, baixa qualidade de vida, insatisfação entre vida pessoal e profissional. Burnout encontra-se em todas as atividades e todas as profissões que tenham as características de trabalho como as citadas acima.
Como deixar de pensar na necessidade de proteção do nosso motorista profissional?
Quando falo em motorista profissional, estou falando do caminhoneiro, motorista de coletivo, taxista, motorista de aplicativo, motociclista, ciclista que fazem delivery, mototaxista, todos esses profissionais que estão envolvidos com direção veicular categorias A, B, C, D e E estão sujeitos a esse risco de apresentarem esses sinais e sintomas que devem ser combatidos de imediato antes que a Síndrome se instale, trazendo possíveis consequências.
Bem, todos sabemos que excesso de horas trabalhadas, acompanhada de privação do sono, com trabalho desgastante, alimentação precária, estresse, submetido ainda aos riscos físico, químico, biológico, privado do lazer, da família, da inter-relação pessoal, tudo isso são queixas principais que temos que combater.
Não temos dúvida que a necessidade econômica para prover à família é real, mas isso só é possível enquanto temos saúde.
O gestor de frota precisa acompanhar de perto seus colaboradores, investigando, escutando, fazendo a profilaxia dessa síndrome, preservando o bem-estar, a qualidade de vida e com isso reduzindo a sinistralidade em sua frota.
Preservar a saúde física, mental e social é a necessidade maior.
Diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego)