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Percepção de Riscos no Trânsito
22 de Agosto, de 2024
Artigo
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By JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS
Percepção de Riscos no Trânsito

Como a Consciência Sensitiva Pode Salvar Vidas

 

O trânsito, um espaço compartilhado por milhões de pessoas diariamente, esconde perigos que podem se transformar em tragédias num piscar de olhos. Acidentes de trânsito, comparáveis a uma doença, continuam a vitimar um número alarmante de pessoas ao redor do mundo. Contudo, a chave para evitar esses desastres está ao alcance de todos: a percepção de riscos. Desenvolver uma consciência aguda por meio dos sentidos—visão, audição, tato, olfato e até paladar - pode ser a diferença entre a vida e a morte.

No Brasil pós-pandemia, os motociclistas e ciclistas, especialmente aqueles envolvidos em entregas rápidas, se destacam como os agentes de maior risco no trânsito. Esses trabalhadores, muitas vezes pressionados pelo horário de entrega, desafiam as leis e os limites da segurança ao desrespeitar semáforos, transitar na contramão e até invadir calçadas.

Em épocas de eleições, essa ousadia cresce, favorecida por um poder público que prefere ignorar essas infrações para não desagradar possíveis eleitores.

A cidade de São Paulo, por exemplo, tornou-se palco desse comportamento, onde motociclistas e ciclistas cometem infrações à vista de todos, inclusive dos próprios agentes de trânsito, que nada fazem para coibir essas ações. Isso resulta em uma agressão cotidiana ao pedestre, que já não encontra segurança, nem mesmo nas calçadas.

A percepção de riscos no trânsito envolve mais do que simplesmente seguir regras; trata-se de estar totalmente atento ao que ocorre ao seu redor, utilizando todos os sentidos para identificar e evitar perigos iminentes. Ver um carro se aproximando em alta velocidade, ouvir o som de uma moto acelerando ao longe, sentir a vibração de um veículo pesado se aproximando, perceber o cheiro de queimado que pode indicar um problema mecânico, ou até mesmo visualizar a presença de fumaça que pode sugerir um incêndio próximo—todas essas percepções são essenciais para antecipar situações de risco e tomar decisões rápidas e acertadas.

Para os motoristas, essa consciência deve ser constante. O simples ato de olhar para os lados antes de uma mudança de faixa, ouvir o som do ambiente para detectar a aproximação de veículos invisíveis no ponto cego, ou sentir as condições da estrada por meio do volante, pode evitar acidentes fatais.

E essa atenção deve ser redobrada em condições adversas, como em dias de chuva intensa, neblina ou ao dirigir em áreas de obras. Nesses momentos, os sentidos precisam estar mais aguçados do que nunca, permitindo que o motorista se ajuste às condições e garanta a segurança de todos.

A segurança no trânsito é uma responsabilidade compartilhada. Motoristas, ciclistas, pedestres—todos têm o dever de utilizar seus sentidos para promover um ambiente seguro. Infelizmente, muitos motociclistas e ciclistas transitando muitas vezes, na contramão, negligenciam essa responsabilidade, transformando-se em ameaças ambulantes nas ruas das grandes cidades.

Ignorar o som de uma sirene de emergência, não perceber um pedestre prestes a atravessar, ou simplesmente não ver uma placa de advertência, são comportamentos que podem ter consequências trágicas. Da mesma forma, os pedestres também devem estar atentos ao movimento ao redor, utilizando não só a visão, mas também a audição e até o tato, como ao sentir a proximidade de um veículo em alta velocidade ao atravessar a rua.

As iniciativas de segurança rodoviária são fundamentais para reduzir acidentes, mas seu sucesso depende, em grande parte, da conscientização dos usuários das vias sobre os riscos que enfrentam e a maneira como podem evitá-los. A educação é o ponto de partida, instruindo desde cedo sobre a importância de uma percepção sensitiva aguçada no trânsito.

Campanhas públicas, programas escolares e cursos de direção defensiva devem enfatizar que cada sentido pode ser uma linha de defesa contra acidentes. Melhorias na infraestrutura, como a instalação de faixas de pedestres mais visíveis, iluminação adequada e sinalização clara, também ajudam, mas sem a atenção plena dos usuários, esses esforços podem ser em vão.

Direção defensiva, neste contexto, não é apenas sobre antecipar perigos, mas sobre utilizar os sentidos para detectá-los antes mesmo que se tornem evidentes. Um motorista defensivo não apenas reage a uma emergência; ele a prevê por meio da percepção aguçada de seu entorno. Estar constantemente alerta, prever as ações de outros motoristas e pedestres, e dirigir de forma a evitar situações de risco, são práticas que salvam vidas diariamente.

A batalha contra os acidentes de trânsito exige o engajamento total da sociedade. É necessário ir além da simples observância das regras de trânsito e adotar uma postura ativa, onde a percepção dos riscos se torna uma segunda natureza.

Conscientizar-se sobre a importância de usar todos os sentidos para detectar e evitar perigos no trânsito é um passo fundamental para criar um ambiente seguro para todos. Em última análise, a prevenção de acidentes começa com a percepção—um sentido que pode e deve ser treinado para proteger a vida.

JOSÉ ROBERTO DE SOUZA DIAS

Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.