Florianópolis é um destino turístico de renome, com suas praias paradisíacas, cultura rica e natureza exuberante. No entanto, para os moradores locais, especialmente aqueles que vivem em bairros costeiros, a temporada de verão é sinônimo de desafios extremos. Como manezinha e moradora do Sambaqui há 33 anos, posso atestar a crescente tensão que toma conta da cidade entre os meses de novembro e fevereiro, quando a população da capital catarinense triplica, e os problemas se multiplicam de forma direta e incontrolável.
O impacto da superlotação na cidade é evidente. Congestionamentos intermináveis, preços abusivos cobrados por comerciantes ansiosos por lucrar a qualquer custo, e a escassez de recursos básicos, como a água, são apenas alguns dos sintomas dessa pressão. Para quem mora na ilha, a experiência de viver em sua própria casa durante o verão muitas vezes se transforma em um exercício de paciência. A mobilidade urbana se torna um pesadelo, e a rotina, uma série de obstáculos.
A superlotação nas ruas e avenidas da cidade é uma das questões mais sensíveis durante a alta temporada. A população local sofre com os congestionamentos diários, que não são apenas um incômodo, mas uma verdadeira ameaça à qualidade de vida. As vias costeiras, estreitas e já saturadas pela demanda de transporte local, tornam-se ainda mais congestionadas devido à quantidade de turistas, que dirigem frequentemente a velocidades incompatíveis com as normas de segurança, empacando o fluxo normal do tráfego.
Essa falta de empatia de parte dos turistas se torna um fator adicional de estresse para quem precisa ir ao trabalho, levar os filhos à escola ou cumprir compromissos médicos. O caso que relato aqui é de um cenário recorrente e lamentável: minha mãe, idosa e com mobilidade reduzida, precisou ser levada a uma consulta médica no centro da cidade. Saímos com uma hora de antecedência, mas o tempo de deslocamento extrapolou amplamente o que foi estimado pelos aplicativos de trânsito, como o Waze. A consequência disso? Um atraso imensurável, que, no caso dela, gerou um sofrimento ainda maior por conta de suas condições de saúde.
É inegável que o turismo seja uma fonte de divisas e crescimento econômico da cidade. No entanto, essa realidade não pode ser uma desculpa para o descontrole absoluto sobre os fluxos de pessoas que ingressam na ilha. Ao mesmo tempo que o turismo traz benefícios financeiros, ele também acarreta uma série de custos sociais e urbanos que parecem ser ignorados pelas autoridades locais.
Falar de “turismo sustentável” em Florianópolis se tornou, infelizmente, apenas uma expressão vazia. O planejamento urbano e o controle de fluxo de turistas, tão essenciais para o bem-estar dos moradores, ainda são promessas vazias que não se concretizam. A ilha, por ser de fato uma ilha, tem a possibilidade de implementar um controle de entrada e saída de visitantes, algo que já é feito com sucesso em outras localidades, mas isso exigiria uma gestão pública capaz de encarar desafios impopulares. O simples controle de carros e pessoas nas vias públicas, por exemplo, poderia ser um primeiro passo crucial, mas, claramente, nenhum gestor se atreve a tomar medidas efetivas que seriam, sem dúvida, mal recebidas por quem lucra com o caos gerado pela falta de organização.
A cidade, que deveria ser um refúgio para todos, torna-se um campo de batalha onde o bem-estar do morador local é constantemente colocado em segundo plano. Isso se deve à falta de medidas estruturais e à falta de uma visão mais equilibrada sobre como o turismo pode coexistir com as necessidades da população residente. Ao invés de tratar os problemas de forma sistêmica, muitos optam por romantizar o turismo e as festas, ignorando o caos cotidiano vivido pela grande maioria dos habitantes da cidade.
É urgente que se busque soluções reais para os problemas que afetam o cidadão local. A gestão pública precisa ser mais ousada e menos focada em agradar os turistas em detrimento dos interesses dos moradores. A implementação de políticas de controle de acesso, o reforço da infraestrutura urbana e o respeito às limitações da ilha são medidas que, embora impopulares, são imprescindíveis para garantir um futuro mais sustentável e equilibrado para todos.
Florianópolis não pode ser vista apenas como um produto turístico. Ela é, antes de tudo, um lar para muitos. E, como tal, merece ser tratada com o respeito e a atenção que seus cidadãos merecem. Até que se encontre um equilíbrio entre o turismo e a vida cotidiana de seus moradores, o colapso de sua infraestrutura será uma questão de tempo.
Por fim, agradeço a oportunidade de compartilhar minha angústia. O espaço oportunizado pelo Jornal do Monatran, para abordar esses temas é fundamental para que nossas vozes sejam ouvidas. Precisamos que os gestores públicos, os turistas e a sociedade como um todo entendam que o equilíbrio entre o turismo e a vida local não é apenas desejável, mas essencial para o futuro de Florianópolis.
Assistente Social