Enquanto acompanhava o grande amigo e colega Marcelo Madruga em uma palestra essa semana, refletia a partir de uma dinâmica que temos realizado com algumas empresas. Nela, montamos um circuito com obstáculos que visam testar o reflexo, equilíbrio e a noção de profundidade do voluntário, enquanto esse utiliza um óculos que simula embriaguez. Ao final do percurso, a pessoa deve acertar uma bolinha dentro de uma lata, exercício no qual, invariavelmente, a grande maioria não têm êxito.
Simular deslocamentos sob influência de substâncias psicoativas pode ser uma atividade interessante (e até mesmo descontraída) para conscientização sobre os riscos envolvidos, quando feita em um ambiente controlado e seguro.
Infelizmente, no entanto, quando se realiza essa prática em via pública, os resultados podem ser desastrosos.
Recentemente, concluímos uma batalha que durou dez anos em uma guerra que parece estar longe de ter fim. Embora tenhamos sido derrotados, perdido mais de 10 milhões de soldados e gerado uma legião de sequelados no mundo inteiro, em 2021 iniciamos uma nova batalha. Uma nova chance para que possamos contra-atacar esse inimigo que não vem de outro país. Além disso, não está camuflado a nos espionar e nem tão pouco conhece sobre táticas de guerras. Mas nós sim as temos. Conhecemos bem esse inimigo, com o qual convivemos diuturnamente. Traçamos metas, planos e estratégias para derrotá-lo. Ainda assim, seguimos perdendo vidas que poderiam ser poupadas. Por pura e simples inação.
Porém, essa inércia não se dá apenas por parte do Estado. É fácil terceirizar a culpa diante de um conflito que parece estar longe de nos afetar. Mas esse é o erro da grande maioria das vítimas dessa guerra: a falsa impressão de que “isso nunca vai acontecer comigo!”.
Nos próximos dez anos teremos uma batalha intensa. Uma batalha que ceifará outros tantos milhões de vidas e deixará ainda muitas sequelas. No entanto, se cada um de nós não nos comprometermos com essa luta e ficarmos esperando apenas pela ação de órgãos governamentais, muito provavelmente ao chegar 2030, amargaremos uma nova derrota.
Sendo assim, comece hoje mesmo a rever suas ações, seus comportamentos e suas responsabilidades. Ainda que essa Segunda Década de Ação para a Segurança no Trânsito nos tenha permitido uma nova oportunidade para buscar um trânsito mais seguro, diferentemente da dinâmica dos óculos, onde o voluntário erra a bolinha na lata, no trânsito não há segundas chances.
Formado em Psicologia pela Unisinos, atua desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre.