Sob o silêncio cúmplice das Autoridades
Nas dinâmicas e tumultuadas ruas de São Paulo, assim como em muitas outras cidades brasileiras, motociclistas, ciclistas e pedestres, frequentemente se veem imersos em comportamentos de risco que desafiam as leis de trânsito e comprometem a segurança de todos.
Uma estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) destaca preocupantes padrões de consumo de álcool e drogas entre esses condutores, muitos dos quais envolvidos com entregas rápidas. Essa investigação revela apenas uma fração de um problema perigoso.
Importante destacar o trabalho do Instituto de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP que há décadas tem sido uma esperança para pacientes e familiares acidentados. O IOT, também desenvolve pesquisas na busca de compreender as raízes desses eventos e as formas de tratar essa doença chamada equivocadamente de “acidente de trânsito”. Tais cientistas são verdadeiros heróis no combate dessa guerra e, infelizmente, pouco reconhecidos.
O comportamento imprudente de muitos motociclistas e ciclistas se manifesta de várias formas alarmantes: trafegam em alta velocidade no meio dos veículos, frequentemente na contramão e até mesmo nas calçadas, desrespeitam as faixas de pedestres e sinais de trânsito, colocando em risco não apenas suas próprias vidas, mas também as de terceiros.
A pressão para cumprir horários apertados, especialmente durante os picos do almoço e jantar, muitas vezes, força esses trabalhadores a uma pilotagem perigosa e imprudente, exacerbada pelo consumo de substâncias psicoativas.
Deve-se salientar que a precária fiscalização de trânsito, principalmente em ano eleitoral, não é capaz nem ao menos de identificar, na amostragem necessária, se os motociclistas são habilitados ou se fizeram uso de álcool ou de outras drogas.
Este quadro não é apenas um desafio para a segurança pública, é um reflexo de uma cultura de desrespeito e urgência que se infiltrou nas veias do trânsito brasileiro. Para enfrentar esta crise, não basta a aplicação esporádica das leis. É necessário uma mudança cultural profunda, onde cada cidadão, de motociclistas a motoristas de carros e pedestres, internalize a importância de respeitar as normas e valorizar a vida.
As empresas de entregadores têm um papel crucial nesta transformação. É imperativo que essas corporações não apenas cumpram as regulamentações, mas também promovam ativamente uma cultura de segurança, garantindo que seus funcionários estejam cientes dos riscos associados a práticas de condução inseguras e estejam equipados para agir corretamente no transito.
Da mesma forma, as empresas montadoras, associações e sindicatos precisam, com a máxima urgência, assumir sua responsabilidade no combate aos acidentes com motocicletas. Mas, não como mera formalidade, mas oferecendo cursos de reciclagem e proporcionando concursos, onde através do mérito, e não da punição, se promove a mudança comportamental, principalmente daqueles que tem no seu veículo seu principal instrumento de trabalho.
Além disso, as políticas públicas devem ser fortalecidas. A fiscalização precisa ser intensificada com uma aplicação rigorosa das leis de trânsito, inclusive em períodos eleitorais. Devemos também olhar para exemplos internacionais, como Amsterdã e Copenhague, onde políticas proativas e infraestrutura dedicada à bicicletas e motocicletas reduziram significativamente os acidentes.
Este artigo é um chamado à ação para que os envolvidos — autoridades, empresas, e cidadãos — trabalhem juntos para transformar o caos presente em um futuro de ordem e segurança. As ruas de nossas cidades não devem ser palcos de anarquia e desdém pela vida. Com compromisso e cooperação, podemos construir um ambiente de trânsito onde prevaleça o respeito mútuo e a proteção à vida.
Chegou o momento de unir forças e renovar o compromisso com a segurança e a ordem no trânsito. Não podemos aceitar a perda de vidas como uma inevitabilidade. Devemos, sim, lutar incansavelmente por um trânsito onde a paz, a ordem e a vida sejam a norma, não a exceção. Vamos reescrever o futuro do trânsito no Brasil, tornando-o um exemplo de segurança, responsabilidade e respeito pela vida humana. Juntos, faremos do Brasil um lugar mais seguro para todos.
Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.