Por várias vezes fui inquirido, inclusive por colegas da área de saúde, sobre o que é a medicina do tráfego.

Como se justifica?  Atinge a quem?

De uma maneira ampla, costumo dizer que a Medicina do Tráfego é uma especialidade voltada única e exclusivamente para o trânsito e transporte em todos os seus aspectos.

Abrange todos os veículos destinados à mobilidade.

Os motoristas profissionais, amadores e pedestres.  Os que transportam a família e os que transportam passageiros, cargas pesadas, cargas perigosas. Além disso, envolvem passageiros, pedestres, o meio ambiente, a comunidade, a sociedade como um todo.

Também não se refere apenas ao transporte de superfície, como é o trem, coletivos, metrô, táxi, peruas, micro-ônibus, caminhões, motocicletas, bicicletas. Estabelecemos íntima relação desses meios de transporte como feito através, de rios, mares, subterrâneos e aéreos. Em consequência o transporte de lanchas, barcos, submarinos, aviões, ultraleves fazem parte integralmente da nossa Medicina do Tráfego.        

Motoristas, pilotos, maquinistas, motoboys etc., todos são envolvidos juntamente com passageiros, tripulantes, pedestres e meio ambiente.

Esta especialidade podemos definir ainda como a voltada para o homem, à máquina móvel e o meio ambiente.

Se a máquina fixa preocupa a qualquer serviço de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT), imagine a móvel, o quanto mais de preocupação oferece. Além do operador, circulam dentro dessas máquinas milhares de pessoas, subindo e descendo e em torno delas ou sob elas outros milhões de cidadãos circulam.

Não sendo fixas tais máquinas, imagine o “Layout”, a proximidade das mesmas e todas oferecendo riscos físico, químico, biológico, ergonômico e de sinistro. Conviver com essa indústria que produz doenças e sinistros, sem um serviço médico que possa atuar de maneira preventiva, orientando, adequando, melhorando a qualidade de vida dos usuários, das comunidades e da sociedade como um todo.

A missão da Medicina de Tráfego é muito ampla e tem suas ramificações para Medicina aeroespacial, Medicina de Viagem, Medicina Pré-Hospitalar, Medicina Ocupacional, Higiene, Medicina Preventiva, Medicina Aquaviária e seus múltiplos departamentos.

O mundo inteiro observa a Medicina do Tráfego pensando na sobrevivência do homem e do meio ambiente, além dos custos gerados aos governos pelas doenças causadas por essa indústria do transporte, além dos sinistros que elevam a cada dia o número de vítimas fatais e de sequelados. Oneram os cofres públicos, reduzem a massa trabalhadora, aumentam os deficientes físicos e reduzem a população. Quase sempre todas essas ações ocorrem principalmente na faixa etária mais produtiva (de 18 aos 35 anos).

O transporte em geral tem que ser visto de maneira holística. A equipe especializada tem que estar sendo frequentemente reciclada para oferecer o melhor para todos nós que dependemos do transporte, para todos que nos grandes centros sofrem as ações dos milhões de metros cúbicos de poluentes jogados na atmosfera, além do ruído causador de surdez, da vibração, capaz de desencadear processos de tromboembolismo, e muitos outros. Hoje, no transporte, temos que nos preocupar até com a disseminação das doenças infectocontagiosas, normalmente transmitidas de pessoa a pessoa, mas também com os gerados por sistema de refrigeração de ambientes confinados como ônibus, trem, interior do metrô, avião e outros. Até com disseminação de agentes vetores de doenças, hospedeiros intermediários e definitivos, temos que nos preocupar. Com o transporte de cargas perigosas, com matéria orgânica como no transporte de aves, gado. A globalização e a rapidez de transporte são capazes de disseminar um vírus rapidamente sobre toda a superfície terrestre.

O médico do tráfego tem que estar voltado para   tudo isso, e de maneira muito bem planejada terá seus meios de prevenção e atuação para manter a saúde de todos.