Como diria o manezinho raiz, da Ilha de Florianópolis: “eu morro e não vejo tudo”. Uma nova “febre” entre caminhoneiros brasileiros tem levado ainda mais perigo às tão sofridas estradas brasileiras.
A cada dia, pipocam na imprensa denúncias do aumento do número de caminhões arqueados, ou seja, com a frente rebaixada e traseira empinada: uma verdadeira máquina de matar, mesmo em acidentes considerados simples.
Um absurdo tamanho, que fomos obrigados a ilustrar nosso artigo com uma foto daquele que é considerado o caminhão mais arqueado do Brasil: Scania 114G 340, que vem acoplada em uma carreta com apenas um eixo. A carreta recebeu um suporte alongado para as bolsas de ar e balanças da suspensão. A badana, ou lameiro, tem 2,25 metros de altura.
Você já imaginou dar de cara com um veículo desse por aí? Para piorar, de acordo com o colega Rodolfo Rizotto, fundador do SOS Estradas, existe uma espécie de competição entre os motoristas. “Virou febre. No Instagram de grupos de caminhoneiros é uma loucura o que eles postam de barbaridades.”
Segundo informações de Rodrigo Kleinubing, engenheiro especialista em acidentes de trânsito, obviamente, caminhões desse tipo são verdadeiras máquinas de matar. Isso porque, alterando características originais, não é mais possível garantir os mesmos parâmetros de estabilidade e frenagem do veículo.
Ainda que a maioria dos caminhoneiros não exagerem tanto nas modificações, a alteração mexe com dois itens que não devem ser mudados: a suspensão e o sistema de freios. Mexer no projeto original coloca em risco a segurança do caminhoneiro e de outras pessoas que transitam pelas estradas.
Além disso, é importante ressaltar que os acidentes envolvendo veículos de carga com traseira elevada podem ser muito mais graves, considerando o grande número de batidas de carros de passeio atrás de caminhões nas rodovias devido à diferença de velocidade média.
“Elevar a traseira incentiva o fenômeno de o carro entrar sob o caminhão em caso de batidas. Tínhamos esse problema sério no Brasil, que foi resolvido com a obrigação das placas retro-refletoras e dos para-choques. Esse tipo de acidente é altamente letal porque quando um carro entra embaixo do caminhão é muito comum que os passageiros da frente sejam decapitados”, alerta o especialista.
O que mais assusta nesse cenário é a cultura do “quanto pior, melhor”. Alguns desses caminhoneiros, nos grupos, argumentam que essas mudanças aumentam a estabilidade, o que não faz nenhum sentido, já que o centro de gravidade do carro é completamente alterado.
Apesar de não representar nada frente ao perigo em caso de acidentes, há punições para esse tipo de alteração. Suspensão irregular rende multa e retenção do veículo.
Conforme inciso VII do artigo 230 do CTB, conduzir veículo com características alteradas sem autorização constitui infração grave, com acréscimo de cinco pontos no prontuário da CNH, multa de R$ 195,23 e retenção do veículo até a sua regularização.
Mais uma missão para as Polícias Rodoviárias Federal e Estaduais, de manter uma vigilância permanente, contra esses malfeitores do trânsito, que teimam em transgredir às Leis e reverter a ordem, espalhando insegurança, também, nas estradas, além das que a sociedade já vive, nos dias atuais.
Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito