Florianópolis, frequentemente celebrada por suas paisagens deslumbrantes e rica cultura, enfrenta desafios críticos em sua mobilidade urbana, especialmente evidentes durante a alta temporada de verão. Em janeiro de 2025, os congestionamentos tornaram-se rotina, com filas intermináveis que transformaram deslocamentos curtos em jornadas exaustivas. As fortes chuvas que atingiram a cidade ao longo do mês agravaram ainda mais a situação, causando alagamentos em vias principais, como a Avenida Beira-mar Norte e a SC-401, além de deslizamentos que bloquearam acessos essenciais. O caos evidenciou a fragilidade da infraestrutura local, incapaz de suportar o aumento exponencial de veículos na ilha.
A raiz do problema está na ausência de políticas públicas eficazes e na descontinuidade administrativa. Há mais de uma década, o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (PLAMUS) foi elaborado com propostas para melhorar o trânsito, mas permanece, em grande parte, engavetado. A falta de implementação prática reflete a negligência das lideranças políticas, que se mostram incapazes de planejar e executar soluções de longo prazo. A visão limitada ao horizonte dos mandatos políticos impede ações estruturadas, enquanto a cidade colapsa sob a pressão de demandas cada vez maiores.
Para superar esses desafios, Florianópolis precisa adotar medidas que promovam uma mobilidade urbana eficiente e sustentável. A geografia da cidade oferece uma oportunidade única para a implementação de um sistema de transporte público marítimo. A exploração de rotas aquaviárias entre pontos estratégicos da ilha e do continente poderia aliviar significativamente o tráfego terrestre e oferecer aos moradores e turistas uma alternativa rápida e viável. Outra solução indispensável é a introdução de um sistema de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT), que conecte áreas-chave da cidade. O metrô de superfície seria capaz de transportar muitas pessoas, reduzindo a dependência de veículos particulares e minimizando os congestionamentos.
Além disso, a construção de novas rotas viárias, especialmente para o sul e norte da ilha, é crucial para descongestionar as estradas existentes. Essas vias devem ser planejadas com base em estudos detalhados de impacto ambiental e de mobilidade, para garantir que atendam às necessidades da população sem comprometer o delicado ecossistema local. Outro ponto crítico é a descentralização dos serviços de saúde. A construção de hospitais em regiões fora do centro urbano, especialmente no norte da ilha, não apenas reduziria o tráfego de pacientes em direção ao centro, mas também garantiria um atendimento mais rápido e acessível em emergências.
A saúde pública também exige atenção em outro aspecto: a fiscalização da venda de alimentos e bebidas nas praias. A alta temporada frequentemente traz surtos de doenças gastrointestinais, como o recente aumento de casos de Norovírus, que sobrecarregam as poucas Unidades de Pronto Atendimento da região. Reforçar a vigilância sanitária é indispensável para prevenir novos surtos e preservar a saúde de moradores e turistas.
Necessário se faz, também, priorizar o tratamento do sistema de esgoto e aumentar sua rede. Sem uma infraestrutura eficiente para lidar com o aumento da população e o fluxo intenso de turistas, resíduos não tratados acabam despejados em rios e no mar, colocando em risco a balneabilidade das águas. Essa negligência compromete não apenas a saúde pública, com o risco de doenças de veiculação hídrica, mas também a economia local, que depende do turismo. Se medidas urgentes não forem adotadas, a imagem de Florianópolis como um paraíso natural pode ser irremediavelmente manchada.
Por fim, a criação de um policiamento de trânsito especializado é fundamental para organizar e dar fluidez ao tráfego. Durante a alta temporada, a falta de agentes treinados para gerenciar o volume de veículos resulta em longos congestionamentos, prejudicando tanto os deslocamentos locais quanto a experiência dos visitantes. Um sistema de fiscalização eficaz traria não apenas ordem às vias, mas também maior segurança para pedestres e condutores.
A situação atual de Florianópolis não é apenas um problema local. Ela reflete a falta de compromisso com o bem-estar coletivo que permeia a gestão pública em muitas regiões do Brasil. Para reverter esse cenário, é necessário que governantes, sociedade civil e empresas unam esforços em torno de soluções práticas e sustentáveis. Florianópolis tem potencial para harmonizar suas belezas naturais com qualidade de vida e eficiência urbana, mas, para isso, precisa de liderança visionária, planejamento estratégico e investimento contínuo. Sem essas mudanças, o paraíso continuará encurralado pelo caos urbano, afastando turistas e comprometendo o futuro de seus habitantes.
Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito