O Brasil sofre com um grande desafio no transporte urbano. Um país com cidades densamente povoadas, de transporte público deficitário, principalmente nas suas metrópoles, cuja solução passa pelo já insustentável transporte individual, principalmente carros, que ainda vêm fantasiados de status social, por conta do símbolo de conquista pessoal arraigado em nossa cultura.
Para complicar ainda mais, a visão comum do brasileiro sobre o que é o trânsito, reconhece que a rua é um espaço público que, sendo de todos, não é de ninguém. Nela, vale a “lei do mais forte”, que acaba por colocar carros contra carros, carros contra motos e onde o pedestre e o ciclista não têm vez. Com mais de 60 milhões de carros e 25 milhões de motos circulando diariamente neste caos urbano, os acidentes se tornam inevitáveis para os motoristas.
Desta forma, não é de surpreender que o trânsito brasileiro seja o terceiro que mais mata no mundo, segundo a OMS, ficando somente atrás de Índia e China. 1,35 milhão de pessoas aproximadamente morrem anualmente em todo o mundo, sendo esta a oitava maior causa de mortes.
Comportamentos criminosos como beber e dirigir, usar celular ao volante, falta de respeito à sinalização e direção agressiva estão entre as principais causas de óbito.
A alta frequência nos casos de acidentes no trânsito passa então a causar pânico em quem precisa enfrentar diariamente esta “selva”, seja para ir e vir do trabalho, para ir frequentar os estudos ou levar os filhos à escola, ao médico, ou outra situação corriqueira qualquer. Todo episódio que envolve enfrentar as ruas torna-se motivo de apreensão e ansiedade.
São os motociclistas os mais prejudicados, chegando por vezes a ultrapassar os 50% dos casos de acidentes. Em geral são homens jovens que compõem a maior parte deste perfil, podendo se falar em um padrão, de acordo com levantamentos da plataforma DataSUS. Este é o banco de dados que cadastra todos os atendimentos feitos na rede pública de saúde, como hospitais e prontos-socorros.
Sendo mais baratas de se adquirir e rápidas para o trânsito da cidade, foram a solução perfeita para muitas pessoas conseguirem se lançar no mercado de trabalho. Isso, principalmente com o aumento da demanda por delivery, muito por conta da pandemia. E também do momento econômico do país, que acabou empurrando mais pessoas para o trabalho informal, precisando de uma saída barata e rápida do desemprego.
Conforme especialistas, deve-se repensar todo o conceito de educação para o trânsito. Se pararmos para analisar, as próprias autoescolas não instruem para uma educação no trânsito, mas apenas para a obtenção de uma habilitação para dirigir, que na prática se traduz por passar por uma prova.
Por fim, por causa de acidentes, motoristas trabalhadores deixam de trazer o sustento para suas casas, famílias perdem parentes e pessoas incapacitadas são obrigadas a conviver com a dor. Além dos traumas físicos, ficam os traumas psicológicos. E é contra tudo isso que temos lutado há tantos anos e, em mais um Maio Amarelo, precisamos falar que falta às autoridades competentes justamente um olhar atento para o trânsito, que cada dia mais enfrenta novos desafios.
Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito