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Como você tem se comunicado no trânsito?
15 de Janeiro, de 2023
Espaço Livre
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By Rodrigo Vargas de Souza
Como você tem se comunicado no trânsito?

“Se pudessem utilizar apenas uma palavra, como vocês definiriam o trânsito?”

É com essa pergunta que eventualmente inicio as minhas palestras, onde, após uma enxurrada de “congestionamento, estresse, caos” e outros tantos adjetivos pejorativos que geralmente surgem, sigo construindo junto ao público um conceito do ato de transitar, que deveria, em tese, ser algo tão natural e inerente a existência humana. Ao longo de tal prática, costumo explanar que trânsito, além de deslocamento e convívio social, é também comunicação. E você como tem se comunicado no trânsito?

Se você tem alguma dúvida disso, aí vai uma dica valiosa, caro leitor, que costumo compartilhar nessas palestras, seja você habilitado ou não: quando você se coloca no assento do condutor de um veículo, terá diante de você um instrumento circular, também conhecido como direção ou volante, que, quando girado, serve para direcionar o automóvel para o lado que se pretende que ele vá (contém ironia). Imediatamente atrás dessa ferramenta, comumente existem duas pequenas alavancas, uma de cada lado. A da esquerda, mais especificamente, quando movida para cima ou para baixo, desencadeia um processo fantástico no lado externo do veículo. Magicamente, umas luzinhas começam a piscar, sinalizando suas intenções aos demais usuários da via, caso esses não estejam em dia com suas funções telepáticas, ou mesmo se seus veículos não venham equipados de fábrica com uma bola de cristal.

O fato é que nem sempre nos comunicamos de forma assertiva no nosso dia a dia, por que no trânsito deveria ser diferente? Foi o que me peguei a refletir recentemente quando, ao ministrar uma palestra em uma empresa (de telecomunicações, coincidentemente) junto ao grande amigo e colega Marcelo Madruga, fomos interpelados por um espectador enquanto discorríamos sobre a importância e a correta utilização de equipamentos obrigatórios.

Ao mencionarmos o triângulo de sinalização, o rapaz levantou a mão e foi logo relatando:

“Um dia desses eu tava indo atender um chamado com o carro da empresa e passei por um cara com o pneu furado…”

Essas últimas palavras ficaram ressoando no meu ouvido, me fazendo perder completamente o foco na história que nosso falante espectador trouxera. Sem perceber, acabei lembrando de um trecho do humorista e cartunista Maringoni, que citei em outro artigo, onde ele diz: “Como se sabe, o homem começou andando de quatro, ficou de pé como homo erectus e agora ficou de quatro, novamente. De quatro rodas”. Como é de praxe de um Psicólogo e Neurolinguista, me afundei em meio a uma reflexão semântica que só teve fim quando notei que meu colega, felizmente, havia terminado a explicação para uma pergunta que eu sequer havia ouvido. Um dos maiores benefícios em ministrar palestras em duplas, diga-se passagem…

Trabalhando no trânsito, frequentemente me deparo com expressões curiosas, mas com as quais acabamos nos acostumando. Como, por exemplo, “fiquei sem gasolina”, “fui guinchado!”, “ele bateu em mim” ou “fiquei sem bateria”. A humanização da máquina passa pela corporificação ou até pela incorporação da mesma ao humano. Assim, dirigir parece não ser mais apenas estar em um carro, mas ser o próprio carro. O que me remete a uma frase que compartilhei há algum tempo da grande especialista em trânsito, Márcia Pontes, que diz:

Diante disso, peço humildemente licença à amiga Márcia para complementar ligeiramente o seu pensamento:

“Eu não sou o meu carro. Eu sou quem dirige esse amontoado de lata e fios e o modo como eu vou dirigir a minha vida e o meu carro é que vai determinar como eu me comunico com as pessoas e valorizo a vida. Eu não sou o meu carro.”

Rodrigo Vargas de Souza

Formado em Psicologia pela Unisinos, atua desde 2009 como Agente de Fiscalização de Trânsito e Transporte na EPTC, órgão Gestor do trânsito na cidade de Porto Alegre.