Neste mês de fevereiro, mais uma tragédia ocorrida no trecho catarinense da BR-101 vem fazer coro a uma questão recorrente em nossa luta em prol da vida no trânsito: BR não é para ciclistas.
E antes que venham nos criticar, afirmando que a vítima estava exercendo o seu direito de ir e vir e que o Código de Trânsito Brasileiro permite o uso do acostamento ou até da pista de rolamento ao ciclista, além de determinar a prioridade da bicicleta sobre veículos automotores, estando estes obrigados a ultrapassar com 1,5m de distância, permita-me elencar algumas questões.
O acidente ocorrido no último dia 16 de fevereiro, no km 171 da BR-101, em Tijucas, no sentido Norte de Santa Catarina, em plena luz do dia, ceifando a vida de uma triatleta escancara a fragilidade deste modal nas BRs, a despeito da experiência do seu condutor.
Não bastasse a dor da perda em si mesma, a forma trágica da morte, ocasionada pela decapitação da jovem de apenas 39 anos, após ser atropelada por uma carreta, reforça ainda mais a vulnerabilidade dos condutores desta modalidade de transporte.
Para completar, o fato de o motorista da carreta não ter parado para prestar socorro, sugere, conforme afirmam diversos especialistas, que provavelmente o choque tenha ocorrido no ponto cego do motorista, que sequer percebeu o acidente.
Ou seja, não é apenas questão de habilidade. Tem a ver com circunstâncias que, muitas vezes, podem estar totalmente fora do controle de qualquer condutor, seja ele ciclista, motociclista ou motorista.
No caso em debate, de acordo com o relato de outra ciclista que pedalava junto com a vítima, no momento do acidente havia um automóvel parado no acostamento da rodovia, o que teria forçado os ciclistas a ocupar a pista de rolamento enquanto ultrapassavam o veículo.
Apenas alguns poucos centímetros na borda de rolamento foram suficientes para ceifar a vida da triatleta. Por isso, não há como nos omitirmos. Definitivamente, BR não é para ciclistas. Pelo menos não por enquanto; enquanto predominar o formato de transporte rodoviário para cargas em nosso país; enquanto as estradas padecerem por falta de manutenção e sinalização; enquanto a Polícia Rodoviária Federal precisar se desdobrar para tentar driblar a falta de efetivo; enquanto não existirem políticas públicas sólidas e permanentes em prol da segurança viária; enquanto não houver uma consciência generalizada de respeito aos mais frágeis no trânsito, não deveria ser possível a convivência de bicicletas em meio ao trânsito pesado das rodovias federais.
Assim, enquanto estivermos vivendo dentro desta realidade, nosso pedido aos ciclistas de plantão, é que tentem criar alternativas: rotas que não dependam das BRs e rodovias estaduais de alto fluxo. Procurem utilizar vias marginais, ciclovias e ciclofaixas.
Não vale a pena se arriscar entre caminhões carregados e carros em alta velocidade. Como já dissemos tantas vezes, a vida é um sopro e nós, apenas humanos!
Nossos sinceros sentimentos aos enlutados por essa tragédia.
Presidente do MONATRAN - Movimento Nacional de Educação no Trânsito