O asfalto das cidades transformou-se em palco de desafios e perigos, especialmente para pedestres, ciclistas e motociclistas. Em meio a essa realidade, inicialmente promovidas como alternativas sustentáveis, emergem como protagonistas ambíguos: vítimas, algozes e, surpreendentemente, impunes.
A busca por votos a cada quatro anos e a influência propagada pelos meios de comunicação tradicionais levam alguns prefeitos a adotarem modelos paradoxais. Essa abordagem, caracterizada pelo estilo terceiro-mundista autodenominado como desenvolvimentista, reflete uma política que copia sem criar, complica sem solucionar.
A promoção do ciclismo e da caminhada, alinhada à tendência global, parece louvável à primeira vista. Contudo, muitas cidades negligenciam a análise do desenho urbano, tornando as vias perigosas para todos os usuários, desconsiderando a segurança de pedestres, ciclistas e motociclistas.
A política urbana baseada na vontade eleitoral e no copiar e colar aumenta a vulnerabilidade desses grupos, resultando em vidas interrompidas e sonhos cancelados. Interferências no espaço urbano sem planejamento adequado e falta de aderência aos padrões internacionais de segurança no trânsito amplificam os riscos.
O renomado professor John Rennie Curto, da Universidade de Maryland, destaca em seu estudo sobre "O Desenho Urbano e a Fatalidade entre Pedestres e Ciclistas" a periculosidade das vias modernizadas sem planejamento. Estatísticas do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), do Ministério da Saúde e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) corroboram o impacto negativo dessas intervenções.
Globalmente, as lesões no trânsito tornaram-se a principal causa de morte de crianças e jovens adultos, sendo pedestres, ciclistas e motociclistas as principais vítimas.
No entanto, é vital atentar para uma questão ainda mais urgente. Desde o advento da pandemia, a entrega rápida em domicílio tornou-se uma prática arraigada. A busca pela eficiência transformou as vias e calçadas em pistas de corrida, especialmente nas cidades de São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro, durante os horários de almoço e jantar.
Os entregadores, utilizando motos e bicicletas, desafiam as normas de trânsito, circulando pelas calçadas, desconsiderando contramão e desrespeitando limites de velocidade e sinalização. A certeza da impunidade permeia esse cenário, alertando os usuários das vias de todo o Brasil para uma nova realidade onde faixas de pedestres e até mesmo as calçadas não garantem segurança para transitar livremente.
Diante dessa circunstância, entregadores tornam-se, paradoxalmente, vítimas e algozes, agindo na mais completa anomia. O alerta aos pedestres é claro: não há contramão segura, faixas de segurança nem sempre são refúgios, e a atenção ao atravessar as ruas deve ser constante, até mesmo em pistas de mão única deve se olhar com cautela para os dois lados antes de iniciar a travessia.
A mudança é imperativa, e a educação no trânsito é parte essencial desse processo. No entanto, não é o único caminho. À medida que as eleições municipais se aproximam, os cidadãos têm a oportunidade de moldar o futuro das políticas urbanas. Não permita ser enganado por discursos vazios. O voto é a ferramenta para transformar as ruas das cidades brasileiras em espaços seguros e sustentáveis para todos.
Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.