O trânsito nas vias brasileiras se transformou em um verdadeiro campo de batalha, onde as motocicletas frequentemente figuram como principais alvos. Uma pesquisa recente da Associação Brasileira de Medicina de Trânsito revelou estatísticas alarmantes: 85% dos feridos em acidentes de trânsito são homens jovens. Entre março de 2020 e julho de 2021, 167 mil motociclistas foram hospitalizados devido a acidentes, gerando um custo de quase R$ 108 milhões aos cofres públicos em 2021. Esse cenário trágico demanda reflexão e ação imediata.
Os motociclistas, sendo o grupo mais vulnerável a lesões, estão pagando um preço elevado. O presidente da Abramet destaca a importância de investir na segurança no trânsito, argumentando que prevenir é mais econômico do que lidar com as consequências pós-acidente. O uso de equipamentos de segurança, especialmente capacetes, é crucial, mas a conscientização e o respeito às regras de trânsito também desempenham um papel fundamental.
Além do impacto na saúde, os motociclistas são as maiores vítimas de acidentes de trabalho no Brasil, uma realidade agravada pela situação econômica, pós pandêmica. O crescimento do serviço de delivery, multiplicou o número de motociclistas nas ruas, tornando-os mais vulneráveis ao trânsito.
É crucial destacar que, apesar de o Código Brasileiro de Trânsito ser considerado um dos mais avançados do mundo, a impunidade muitas vezes, o torna letra morta. Condutores de motos e de bicicletas, frequentemente, desrespeitam regras de trânsito, confiantes na dificuldade de serem alcançados pela lei. Isso cria um ambiente caótico, circulando na contramão e nas calçadas, colocando em risco a vida de pedestres.
Paralelamente, observa-se um descaso por parte dos fabricantes de ciclos e empresas que os comercializam, mais interessadas em obter lucros do que no risco de vida dos consumidores e dos pedestres. Campanhas esporádicas que realizam não são suficientes; é necessário uma abordagem contínua, para conscientizar sobre a melhor forma de conduzir o veículo com segurança.
A falta de habilitação adequada para motociclistas, somada à falta de programas de condução defensiva, contribui para agravar a situação. Cursos intuitivos e acessíveis para uma população, em grande parte, formada por analfabetos funcionais, são essenciais.
A mudança do cenário depende do comprometimento dos governantes em cumprir a lei, investindo maciçamente em educação, segurança e engenharia de trânsito. O dinheiro arrecadado com multas, conforme estipulado pelo Art. 320 do Código Brasileiro de Trânsito, é destinado exclusivamente a melhorias nesses setores, como afirma claramente a letra da Lei.
A autoridade que desvia tais recursos da destinação prevista por este Artigo pode, perfeitamente, ser acusado de prevaricação com a coisa pública e responsabilizado pelo que acontecer com as pessoas. Fique atento cidadão!
Fazendo um paralelo com o conflito entre Israel e o Hamas, que eclodiu recentemente, percebemos a urgência de enfrentar a guerra no trânsito. Enquanto o conflito no Oriente Médio, resultou em 4.265 mortes em dez dias, a guerra nas vias brasileiras, ceifa vidas, cotidianamente.
A mobilização nacional ao lado da introdução de um programa permanente de conscientização e investimentos em segurança viária são passos cruciais para preservar vidas.
É hora de uma mudança radical em nossos hábitos no trânsito, antes que mais vidas se percam, nessa guerra silenciosa.
Doutor em Ciências Humanas e Mestre em História Econômica pela USP, criou e coordenou o Programa PARE do Ministério dos Transportes, foi Diretor do Departamento Nacional de Trânsito – Denatran, Secretário-Executivo do Gerat da Casa Civil da Presidência da República, Doutor Honoris Causa pela Faculdade de Ciências Sociais de
Florianópolis – Cesusc, Two Flags Post – Publisher & Editor-in-Chief.