A discussão sobre a mobilidade do futuro é, acima de tudo, sobre integração entre diversas opções de transporte que tornam a jornada das pessoas mais fácil e conveniente. Dentre tais modais, um deles suscita debates em particular: o carro. Divisor de opiniões, entendo que não é possível (nem desejável) pensar em uma cidade em que eles não existam, mas seguramente é fundamental revisarmos o espaço que ocupam no ecossistema de mobilidade urbana.
Desde a segunda metade do século XX, o protagonismo dos carros na mobilidade urbana é evidente, contudo, diversas cidades recentemente vêm implementando iniciativas importantes para reduzir o seu uso, desde pedágios urbanos até restrição de vias e de velocidade. Os motivos para essas mudanças passam por questões econômicas e ambientais.
Em primeiro lugar, podemos perceber globalmente uma redução na compra de veículos novos. Nos últimos anos, o número de carros vendidos reduziu muito, principalmente na Europa, enquanto serviços de compartilhamento de carros seguem crescendo.
O benefício é óbvio: mais flexibilidade e economia.
Afinal, manter um carro tem custos que vão além do combustível e na maior parte do nosso tempo, não estamos efetivamente dirigindo ou nos deslocando. A posse de um carro é vista pelos mais jovens, inclusive, como um luxo dispensável. Isso reforça uma mudança no comportamento que promete ser longa.
Além disso, a questão energética é especialmente sensível: atualmente nada contribui mais para a poluição urbana do que o transporte. O uso intensivo de gasolina e diesel, combustíveis de origem fóssil, é comprovadamente um elemento agravador das mudanças climáticas, pauta crítica de discussão de governos ao redor do globo. Não à toa, o desenvolvimento de carros elétricos tornou-se fundamental para as montadoras. Ano após ano, elas apresentam novos modelos e investem na promoção da infraestrutura necessária para uma frota extensa de carros elétricos.
Se para a era da nova mobilidade o carro não é visto como o herói, como foi visto durante décadas, tampouco me parece correto enxergá-lo como um vilão. Ou seja, um elemento que coloca em risco as cidades sustentáveis. Em evento recente sobre a Mobilidade do Futuro, pude discutir sobre o papel do carro com representantes de Nova Iorque, Munique e Pequim.
Os investimentos em carros elétricos, que são menos poluentes, têm aumentado ano após ano. E mesmo as montadoras já começaram a desenvolver seus serviços de aluguel de carros, dado que cada vez mais pessoas preferem este tipo de serviço.
Ao mesmo tempo, a propósito cidades com altíssima proporção de viagens feitas por carros, o espírito já é outro: o carro tornar-se um auxiliar para o meio de transporte massivo, como ônibus e metrô, em especial em regiões mais distantes dos centros, estes geralmente mais densos, onde a disputa por espaço exige eficiência maior. Para tal, a construção de estacionamentos que funcionam como terminais intermodais tem sido importante para facilitar essa adesão. Centros mais restritos aos carros exigem conexões mais bem desenhadas dentro do ecossistema de transporte.
É evidente que o cenário brasileiro, principalmente, o paulistano difere bastante daquele vivido em Munique, Nova Iorque ou Pequim. A desigualdade entre o centro e a periferia da cidade torna a discussão de mobilidade por aqui também uma discussão de acessos. E, no caso de São Paulo, o carro mais do que nunca, acaba se tornando um artigo de luxo – que a mobilidade não pode depender, mas pode se beneficiar também para a inclusão.
Nesse sentido, o principal novo papel do carro é conectar novas áreas aos centros urbanos por meio da integração aos modais massivos. Uma função da qual ele pode ser eficiente – ainda mais sendo elétrico.
A nova mobilidade se beneficia da integração. Afinal, as demandas das pessoas são tão diversas quanto elas mesmas e as necessidades mudam de acordo com a ocasião. Aplicativos que promovem esta integração e de forma eficiente, como a Quicko, se baseiam nas necessidades ocasionais para sugerir o melhor modal e, nesse contexto, o carro é um meio de transporte importante, mas de uma nova forma: sob demanda e elétrico, ou seja, mais acessível, flexível e sustentável. Para as cidades do futuro, precisamos de colaboração e nesse sentido, superar a ideia de que um protagonista é chave.
CEO da Quicko