Não temos dúvida de que essa é uma medida protetora que reduzirá as gravíssimas lesões que chegam a todo momento em nossos hospitais. Preservar vidas é dever do estado e de toda sociedade.
Quando se estuda causas de acidentes e mortes no trânsito de início esbarra-se no fator principal, a velocidade. Quando aumentamos a velocidade aumentamos a energia do movimento (energia cinética). Essa energia é responsável pelas lesões produzidas.
Quanto maior essa energia maior a possibilidade de lesões mais graves.
Imagina: você no seu automóvel, desenvolvendo uma determinada velocidade e sem saber como explicar você está estendido no asfalto à espera de um socorro. Ou “Está lá um corpo estendido no chão”. Sempre achamos que isto acontece com os outros, não com a gente.
O entendimento e aceitação da multa tem que excluir a ideia de que o objetivo é aumentar a arrecadação, produzir maior lentidão ou engarrafamento. Temos que correr sim, mas atrás da manutenção da vida, da redução das mortes e incapacitados produzidos por esse trânsito louco.
O engarrafamento e lentidão do trânsito é problema que vem de longa data, é crônico, que precisamos resolver. Não surgiu com redução da velocidade, aliás, essa redução possibilita a maior fluidez. A alta velocidade faz com que se acumulem veículos, enquanto mantendo-a baixa e uniforme as conhecidas lentidões e engarrafamentos tendem a redução. O maior responsável por isso é o excesso de veículos nas ruas.
Temos que deixar de pensar na individualidade e sim no coletivo. Só nos revoltamos, reagimos, pedimos justiça quando alguém da nossa família foi atingido, mas vamos ter que aguardar que toda a sociedade perca esse ente querido para reagirmos?
A desorganização de ideias, muitas maliciosas, ainda não se conscientizou que necessitamos de atitudes firmes, objetivas para redução das mortes e sequelados em nossas vias.
O mundo está mudando, a Organização das Nações Unidas (ONU) diante do absurdo de 1,2 milhões de mortes e 50 milhões de lesionados no trânsito no mundo, propôs a redução de 50% na década de 2011 a 2020. Pior é que com uma frota bastante reduzida em relação a outros países, nos encontramos no terceiro lugar no ranck mundial.
Voltamos a afirmar que a velocidade é o primeiro fator desencadeante de mortes no trânsito. Os veículos produzidos no Brasil são frágeis segundo a Latin Ncap, não são capazes de absorver a energia de uma colisão permitindo que essa energia se propague para dentro do veículo causando danos muitas vezes irreversíveis a quem está no seu interior.
Estudos que se iniciaram em Londres, propagando-se para o resto da Europa mostram:
A 32 Km/h podemos causar mortes em 5% de pedestres, 65% serão lesionados e 30% ficarão ilesos.
Aumentando para 48 km/h teremos 45% de óbitos, 50% de lesionados e 5% de ilesos.
Pisando mais no acelerador e com 64 Km/h teremos 85% de óbitos e 15% de lesionados.
Veja que com baixa velocidade o que podemos causar!
Esses estudos de engenharia e medicina de tráfego iniciado em Londres, como dissemos, levaram vários países de primeiro mundo a adotarem a regra, reduziram as velocidades, reduziram as mortes.
Hoje as transgressões no trânsito em nossas cidades são absurdas, o desrespeito às regras de trânsito está se perpetuando. Parece que normal é transgredir. Precisamos conter os absurdos para podermos ter uma mobilidade mais segura, terminando com os sinistros e o sofrimento de todos.
A violência no trânsito é caracterizada pelos xingamentos gestuais e verbais, fechadas, farol alto na cara, agressões físicas e até morte. A fúria está presente. Os veículos blindam o motorista e lhe tiraM a cidadania, o respeito levando-o a distúrbios comportamentais que vão repercutir no organismo gerando insatisfação e autoagressão. O motorista está contido em seu carro de combate e passa a ser um predador na via pública.
Diretor da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego)